sábado, 30 de maio de 2009

Eleições Legislativas - Primeira Volta

É esta a definição sem dúvida mais adequada à realidade que representam as eleições europeias de 2009, com data marcada para o próximo Domingo, dia 7 de Junho. Não desvalorizando a participação de todos os outros grupos partidários, a verdade é que PSD e PS (o famoso “bloco central”) se encontram numa posição de confronto bilateral em que dificilmente se prevê quem irá ganhar. Surge-nos aqui uma questão: serão estes os candidatos ideais para defender os interesses nacionais numa Europa em constante mudança? Provavelmente nem os próprios partidos estão muito preocupados com isso. A preocupação é generalizada: as eleições legislativas de Outubro. É fácil de perceber. Os debates televisivos são assolados por duras críticas de parte a parte, tendo sempre por base problemas de interesse nacional e não europeu.
O Bloco de Esquerda (BE), continua a fazer uma campanha de ataques constantes aos partidos do bloco central, com Vital Moreira, o polémico candidato socialista, a ter especial papel como alvo nas intervenções feitas pelos bloquistas nos seus comícios pelo país fora.
Vital Moreira é sem dúvida de trato difícil. Nas palavras de Paulo Lopes Marcelo, Vital representa uma geração política pós 25 de Abril. É constantemente acompanhado pelo leve perfume revolucionário na sua argumentação. Parece estar fora da realidade que são as eleições europeias e todo o debate envolvente. O seu discurso, sempre fervoroso, ostenta ainda o quadro ideológico do comunismo, debatendo assuntos de teor nacional e salientando sempre nas suas intervenções nomes como Manuela Ferreira Leite, a líder social-democrata. E questionemo-nos então: que têm tais criticas e intervenções que ver com a representação portuguesa em Bruxelas? Muito pouco, ou nada diria eu.
Paulo Rangel, representa já o “sangue novo” do PSD e vem com uma arte de discussão inovadora: apresenta-se convicto e aberto à opinião, é seguro nas suas palavras e bem preparado para o debate. É talvez um dos pilares de uma geração vindoura da qual Portugal muito necessita. É imprescindível a inovação, a evolução de mentalidades, o desprender de um passado que não trouxe grandes benefícios a um país em crise.
Contudo, as eleições para o parlamento europeu, são como uma espécie de primárias das legislativas. Os líderes dos partidos políticos e candidatos ao Governo do país utilizam esta campanha como um meio para atingir a meta de Outubro. Estão presentes em cartazes de campanha das europeias, aparecem em debates ou discursos em defesa ou com os seus candidatos europeus e fazem a já usual troca de palavras com os seus adversários. O próprio Primeiro-Ministro, José Sócrates, é um dos elementos empenhados nesta campanha eleitoral. E, efectivamente, percebe-se: o facto de os grupos partidários (e respectivos líderes) terem grande visibilidade e grande número de votos por parte dos seus eleitores nesta fase do campeonato, dá uma grande margem para sonhar com a chegada a São Bento nas legislativas.
É por isso que num ano em que temos três eleições (a juntar às duas já referidas, as eleições autárquicas), os líderes partidários vão dar tudo por tudo para conquistar a massa eleitoral, fragilizada e debilitada com uma crise económica que tem vindo a deixar marcas na mentalidade portuguesa.
Mas, outro tema que tem conquistado lugares de destaque na imprensa nacional, é a questão da abstenção. Adivinha-se que esta possa vir a ser maior ainda que a afluência de cidadãos à urna. É, sem dúvida, algo assustador. O desinteresse do cidadão português pela representação do seu país no contexto europeu, é um facto de lamentar. É vergonhoso que o nosso país possa vir a ter uma das maiores taxas de abstenção dentro da realidade da União Europeia. A juntar ao facto de haver feriados nacionais dos dias seguintes às eleições e a maioria dos portugueses aproveitarem a época para fazer uma pausa nas suas vidas de trabalhadores (é de salientar que em França, por exemplo, não existe esta impossibilidade prática de votar onde quer que estejamos), cada vez mais há uma descrença na classe política, e um desligar dos assuntos nacionais e internacionais, pela simples razão de que os políticos são cada vez mais vistos como mentirosos, corruptos e incompetentes. E aqui eu sublinho: os nossos políticos, são o reflexo da nossa sociedade. Não nos podemos esquecer disso. Nasceram no mesmo país, foram criados nos mesmos contextos socioeconómicos e políticos e foram eleitos pelos cidadãos, que os quiseram lá por alguma razão. Fácil é falar. Difícil é fazer algo para mudar e nisso o português é imutável. A melhor maneira de demonstrar a nossa revolta para com esses senhores, é votar. É o meio mais eficiente que se conhece para elegermos quem queremos para nos governar. É o reflexo da democracia, do pluralismo. O ser humano é estranho: quando tem o que quer, mesmo que isso tenha sido o resultado de uma luta enorme, descredibiliza esse facto. É assim com o sistema de voto para eleição de órgãos de soberania. Muitos anos de luta para ter tal direito e, no final de contas, o cidadão vê-o como uma obrigação e como um sacrifício quando chega à hora de o fazer. Depois fala e contesta, na praça pública, as decisões dos governantes. Que fez ele para mudar a situação? Nada. Então que legitimidade tem para se revoltar com tais decisões? Provavelmente, nenhuma.
Há dias, assisti à expressão pouco entusiasmada de um jovem cidadão português quando o questionaram acerca da visão dele da política, e se era interessado por tais assuntos. O rapaz, não abdicando da honestidade, referiu que não tinha qualquer interesse na política e não pensava ir votar. Ora, tomando esta pequena amostra como sendo uma expressão do pensamento dominante nas mentes mais jovens, o que é que o futuro nos reserva? Um mundo em que ninguém tem opinião? De ingenuidade, de descrença, de abstenção cada vez maior em relação aos assuntos que têm influência na nossa vida? É aqui que podemos ir mais longe e falar de uma Crise de Valores. Porque esta é a que irá desencadear muitas outras.
A mensagem que eu deixo é: votem, pelos vossos interesses!




Hugo Viegas
Caldas da Rainha, 30 de Maio de 2009

1 comentário:

  1. Puseste o dedo na ferida. Se formos a ver bem, a culpa da situação a que chegou Portugal, a que chegou a sociedade portuguesa, é dos próprios portugueses. Não dos políticos, não dos grandes empresários nem do Estado em geral. A culpa é de cada cidadão individual que fez com que Portugal chegasse a este ponto.
    Num país que tem a primeira ou segunda maior taxa de abstenção em eleições europeias (as restantes vão pelo mesmo caminho), não se pode esperar que a classe política seja diferente dos seus concidadãos. Em pleno século XXI, em que se enaltecem as revoluções tecnológicas e a era da globalização, a relação dos portugueses com o acto eleitoral (um direito que, como disseste, é encarado como um dever, uma chatice!) faz lembrar uma época muito anterior à Idade da Pedra.

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